Melhor ainda é possível*
Para ele, a experiência de amar não é tranquila. Vive fugindo do amor e de suas complicações emocionais, pelo medo do risco de se entregar e se expor. Se deu bem no trabalho. Conta bancária bem feita, vida amorosa desfeita.
Ele fala da dificuldade com o amor ao revelar as estratégias obsessivas que usa para afastar de si toda forma de intimidade
Amigo de uns, com distância de segurança. É especialista em provocar desencontros com sarcasmo, ferindo as pessoas ao abrir a boca. Sua fúria constante é não ser atendido em suas necessidades imediatas.
Esse sujeito, em início de tratamento, não sabe ainda o que é ir além de si mesmo. O que ele nos ensina é que cada um de nós, só encontrará uma ponte para o mundo humanizado dos afetos, ao se confrontar com sua fome de amor. Suas carências estão travestidas em uma necessidade bruta e uma dependência absoluta de ser servido sempre a tempo e a hora de seus caprichos. Assim, ele construiu sua história de isolamento e esvaziamento subjetivo.
Como ocorre com ele, muito se fala sobre o amor, mas pouco se experimenta de fato. Um amor é antes de tudo uma construção a dois que exige tempo, dedicação e aprendizado de irmos além de nós mesmos. Não é um objeto encantado e pronto em algum lugar.
Ao nos propor a viver e compreender o amor, precisamos aprender a explorar e conhecer nossos abismos. Na atualidade, o ato de amar torna-se uma verdadeira experiência transgressora.
Haverá algum sentimento mais pleno de contradições e equívocos do que o amor? É uma resposta individual e depende de nos abrirmos para o risco do encontro com o outro, que esse paciente se parece insistir em evitar.
*Artigo que escrevi para o Jornal do Padre Eustáquio